Marlyn Tows
Ontem enquanto croquizávamos, um
distinto senhor mendigo trajando trapos e gravata sobre camiseta rasgada
atravessou a Praça Zacarias em direção a um bueiro. Retirou a tampa e adentrou
até a cintura. Eu, André e MIsael, impressionados, achamos que sua intenção era
cagar ou mijar lá dentro. Talvez aliviar nas águas violentas e misteriosas do
Rio Ivo, que corre nos subterrâneos. Mas seu intento na verdade era outro, e
sumiu de corpo inteiro para baixo da terra.
Alguns
minutos depois, roupas voaram lá de dentro.Os pedaços de pano foram
arremessados em direção à Praça. Um foi parar no banco, outro ficou pendurado
na cobertura do ponto de ônibus, outro na cabeça da estátua...
Por pouco não atinge uma
croquizeira nova que desenhava a águia maçônica do Edifício Acácia.
Eu e André
ficamos na expectativa de descobrir o que havia lá embaixo, até que o homem enfim
reapareceu. Primeiro a cabeça, depois a barba, gravata e o resto. Abandonou o
buraco onde provavelmente mantém seu “armário” de roupa (há quem diga que os
subterrâneos de Curitiba são habitados por basiliscos gigantes e que o maior
deles repousa a cabeça sob a Catedral).
Então o
mendigo caminhou pela Praça e escolheu uma das peças caídas – uma calça, e
levou-a para lavar no chafariz.
Aparentemente era seu dia de
lavar de roupas e, com ou sem croquizeiros, ele faria isso, claro!
Torcia e
batia os panos no chafariz. Arrastava-os, circundando a “piscinona”, como se os
levasse para passear. Depois os puxava com violência, respingando água para
todo lado (e quase estragou a aquarela da Sueli Bmp). Assustando as pombas e
nós – mais ainda.
A sua roupa limpa com água, tornava
a sujar, passada sobre as merdas dos ratos voadores.
Depois de
fazer isso com mais dois ou três mudas, desapareceu. Deixando algumas para
secar sobre os petit pavés.
De
repente olhei para a águia bicéfala e ela possuía uma nova forma. Uma cabeça de
águia e outra de cueca.
(Fabiano Vianna, 11/08/14)
Nenhum comentário:
Postar um comentário