Rafael Pto
Desde que comecei a participar dos
encontros semanais do “Croquis Urbanos” – grupo que se encontra para desenhar a urbe,
sinto-me mais vivo. É como se nanquim corresse em minhas veias e canetas
brotassem de minhas mãos.
Desenhar é muito prazeroso.
Vivi durante muito tempo apenas ilustrando
para clientes, muitas vezes em frente ao computador. Utilizando meu traço para
resolver os “jobs” rotineiros. E estava infeliz (só) com eles por serem
criações muito direcionadas.
No “Croquis”, redescobri um traço mais
visceral, livre, solto. Voltei a experimentar grafismos e pintar com aquarela
na rua. Sentir o cheiro da tinta e a textura dos papéis. A gramatura e
consistência dos objetos voltaram a ser relevantes.
Algo que não fazia há muito tempo, desde a
época que cursei Arquitetura e Urbanismo. Estar na rua – onde as histórias
acontecem. Sujeito às dificuldades e alegrias de estar exposto. Clima, tempo,
acontecimentos, surpresas... Malucos-beleza com visões duplicadas, travestis
sedentos por desenhos safados, curiosos enigmáticos, cantores de praça, piás
bisbilhoteiros, turistas interessados, alimentadores de pombos, fantasmas
locais, senhoras fumantes, amantes inspirados, avôs, camelôs, ciclistas,
escritores, floristas, mendigos, estudantes, cachorros, urubus e gatos
citadinos.
Aliás, reencontrei antigos colegas do
curso também. Depois de treze anos de formado.
Também conheci artistas fantásticos e
entre eles, encontrei um mestre – José Marconi. Eu, que achava que não tinha
mais idade para isto. Para viver experiências assistidas em filmes e/ou
pertencer a um bando.
Relembrei ao lado destes colegas,
conceitos de desenho de observação e proporção. Redescobri minha própria cidade.
(Se ela realmente existe e não esteja diariamente sendo criada).
Das vezes que fomos desenhar “in loco”,
mesmo de baixo de chuva, no manguezal (no caso da ida à Paranaguá) ou em
condições difíceis.
Voltei a perceber Curitiba com olhos criativos
(e não apenas através de um olho dispositivo de segurança – utilizado como
ferramenta de combate). Todos os detalhes – cornijas, pilastras, peitoris,
lambrequins, balaustradas.
Agora ando pelas ruas conjecturando temas a
serem croquizados.
Desenhar para mim é como contar histórias.
São crônicas gráficas, pois costumo inserir personagens cotidianos nelas.
Durante a semana, ainda faço trabalhos
para clientes. Mas já divido meus horários com encomendas de pinturas e
aquarelas pessoais. E estas novas criações, contrabalanceiam o stress do
dia-a-dia.
Há quem acredite que os encontros
dominicais do grupo “Croquis Urbanos” só aconteçam em sonho. Uma espécie de
delírio coletivo, orientado pela sugestão do evento no Facebook. Sonhamos que
desenhamos. Ou é o contrário – sonhamos a rotina da semana e acordamos do
transe aos domingos.
(Fabiano Vianna, 09/04/14)
"A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida", o Croquis Urbanos Curitiba tem sido uma confirmação desta máxima do Vinícius de Moraes. Obrigado pela parceria.
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